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    Um pouco de Clarice Lispector

    Alma luz

    Minha alma tem o peso da luz
    Tem o peso da música
    Tem o peso da palavra nunca dita,
    Prestes quem sabe a ser dita
    Tem o peso de uma lembrança
    Tem o peso de uma saudade
    Tem o peso de um olhar
    Pesa como pesa uma ausência
    E a lágrima que não chorou
    Tem o imaterial peso de uma solidão
    No meio de outros

    A lucidez perigosaEstou sentindo uma clareza tão grande
    que me anula como pessoa atual e comum:
    é uma lucidez vazia, como explicar?
    assim como um cálculo matemático perfeito
    do qual, no entanto, não se precise. Estou por assim dizer
    vendo claramente o vazio.
    E nem entendo aquilo que entendo:
    pois estou infinitamente maior que eu mesma,
    e não me alcanço.
    Além do que:
    que faço dessa lucidez?
    Sei também que esta minha lucidez
    pode-se tornar o inferno humano
    – já me aconteceu antes. Pois sei que
    – em termos de nossa diária
    e permanente acomodação
    resignada à irrealidade –
    essa clareza de realidade
    é um risco. Apagai, pois, minha flama, Deus,
    porque ela não me serve
    para viver os dias.
    Ajudai-me a de novo consistir
    dos modos possíveis.
    Eu consisto,
    eu consisto,
    amém.A perfeiçãoO que me tranquiliza
    é que tudo o que existe,
    existe com uma precisão absoluta.
    O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
    não transborda nem uma fração de milímetro
    além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
    Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
    Pena é que a maior parte do que existe
    com essa exatidão
    nos é tecnicamente invisível.
    O bom é que a verdade chega a nós
    como um sentido secreto das coisas.
    Nós terminamos adivinhando, confusos,
    a perfeição.https://googleads.g.doubleclick.net/pagead/ads?client=ca-pub-5093303690767088&output=html&h=280&slotname=7974576484&adk=35687052&adf=2059818403&pi=t.ma~as.7974576484&w=640&fwrn=4&fwrnh=100&lmt=1649614956&rafmt=1&psa=1&format=640×280&url=https%3A%2F%2Fescolaeducacao.com.br%2Fclarice-lispector-poemas%2F&fwr=0&fwrattr=true&rh=300&rw=640&rpe=1&resp_fmts=3&wgl=1&adsid=ChAI8IDKkgYQlbCI87C1_r4ZEj0AvzuxvJEQLzzetC2zdo-c-1q402kPu2jEbbq5SW_fFT9iRhvmwSpIz6iXXALsucZa6d5C22OvCSvA7R1r&uach=WyJXaW5kb3dzIiwiMTAuMC4wIiwieDg2IiwiIiwiMTAwLjAuNDg5Ni43NSIsW10sbnVsbCxudWxsLCI2NCIsW1siIE5vdCBBO0JyYW5kIiwiOTkuMC4wLjAiXSxbIkNocm9taXVtIiwiMTAwLjAuNDg5Ni43NSJdLFsiR29vZ2xlIENocm9tZSIsIjEwMC4wLjQ4OTYuNzUiXV0sZmFsc2Vd&tt_state=W3siaXNzdWVyT3JpZ2luIjoiaHR0cHM6Ly9wYWdlYWQyLmdvb2dsZXN5bmRpY2F0aW9uLmNvbSIsInN0YXRlIjoyOSwiaGFzUmVkZW1wdGlvblJlY29yZCI6dHJ1ZX1d&dt=1649615115748&bpp=1&bdt=158718&idt=1113&shv=r20220406&mjsv=m202203300101&ptt=9&saldr=aa&abxe=1&cookie=ID%3D9b9e92e713f71e97-22327e3cfd7b009f%3AT%3D1647285788%3ART%3D1649615116%3AS%3DALNI_MZrtTdvRLS5mELc9Vk-s-IT7k_Sjg&prev_fmts=0x0%2C0x300%2C640x280%2C640x280%2C640x280%2C300x250%2C1349x625&nras=2&correlator=2558815608519&frm=20&pv=1&ga_vid=2126924266.1647285788&ga_sid=1649615116&ga_hid=649775038&ga_fc=1&u_tz=-180&u_his=2&u_h=768&u_w=1366&u_ah=728&u_aw=1366&u_cd=24&u_sd=1&dmc=8&adx=179&ady=4383&biw=1349&bih=625&scr_x=0&scr_y=1900&eid=44759875%2C44759926%2C44759837%2C44760333%2C21067496&oid=2&psts=AGkb-H9As-hmXseLHuuYnEXayW4YoSaUFpouDOvIImLSjXVvZrOTYDrSK2yLgtkXTrlKLbJf0wWZVCWVy9mjeZ7m3A%2CAGkb-H9bC6lnL0SHvS-53ldKt1kEojRX9-V-c5AR-IUA64K2ceOa3EWhYe_zpUwc1yki1WVD1JlUKkixXOvJB1Plrw%2CAGkb-H-rakiqYcC0l7UAruuvT5VfKV1wePMbsD-loVgTRJiTQRmXYgxFr2wVt2qOuqLZeykAUyzdS-pVNtbqKNiaVQ%2CAGkb-H9eXUby9kN2M5SQj-v01sv2tD4LCi4HlYomMINhnxc8w-3T7tUk_48rykc2phd68HRY8PQke8Y-ADTkp00&pvsid=1939892861093492&pem=211&tmod=1473098538&uas=3&nvt=1&ref=https%3A%2F%2Fbr.search.yahoo.com%2F&eae=0&fc=1920&brdim=0%2C0%2C0%2C0%2C1366%2C0%2C1366%2C728%2C1366%2C625&vis=1&rsz=o%7C%7CeEbr%7C&abl=CS&pfx=0&fu=128&bc=31&jar=2022-04-10-18&ifi=6&uci=a!6&btvi=4&fsb=1&xpc=j0nksb6Nb5&p=https%3A//escolaeducacao.com.br&dtd=26422

    Dá-me a tua mão

    Dá-me a tua mão:
    Vou agora te contar
    como entrei no inexpressivo
    que sempre foi a minha busca cega e secreta.
    De como entrei
    naquilo que existe entre o número um e o número dois,
    de como vi a linha de mistério e fogo,
    e que é linha sub-reptícia.

    Entre duas notas de música existe uma nota,
    entre dois fatos existe um fato,
    entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
    existe um intervalo de espaço,
    existe um sentir que é entre o sentir
    – nos interstícios da matéria primordial
    está a linha de mistério e fogo
    que é a respiração do mundo,
    e a respiração contínua do mundo
    é aquilo que ouvimos
    e chamamos de silêncio.

    Eu

    Sou composta por urgências:
    minhas alegrias são intensas;
    minhas tristezas, absolutas.
    Entupo-me de ausências,
    Esvazio-me de excessos.
    Eu não caibo no estreito,
    eu só vivo nos extremos.

    Pouco não me serve,
    médio não me satisfaz,
    metades nunca foram meu forte!

    Todos os grandes e pequenos momentos,
    feitos com amor e com carinho,
    são pra mim recordações eternas.
    Palavras até me conquistam temporariamente…
    Mas atitudes me perdem ou me ganham para sempre.

    Suponho que me entender
    não é uma questão de inteligência
    e sim de sentir,
    de entrar em contato…
    Ou toca, ou não toca

    Mão

    Agora preciso de tua mão,
    não para que eu não tenha medo,
    mas para que tu não tenhas medo.
    Sei que acreditar em tudo isso será,
    no começo, a tua grande solidão.
    Mas chegará o instante em que me darás a mão,
    não mais por solidão, mas como eu agora:
    Por amor.

    Mas há a vida

    Mas há a vida
    que é para ser
    intensamente vivida, há o amor.

    Que tem que ser vivido
    até a última gota.
    Sem nenhum medo.
    Não mata.

    Meu Deus, me dê a coragem

    Meu Deus, me dê a coragem
    de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
    todos vazios de Tua presença.
    Me dê a coragem de considerar esse vazio
    como uma plenitude.
    Faça com que eu seja a Tua amante humilde,
    entrelaçada a Ti em êxtase.
    Faça com que eu possa falar
    com este vazio tremendo
    e receber como resposta
    o amor materno que nutre e embala.
    Faça com que eu tenha a coragem de Te amar,
    sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.
    Faça com que a solidão não me destrua.
    Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
    Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
    Faça com que eu saiba ficar com o nada
    e mesmo assim me sentir
    como se estivesse plena de tudo.
    Receba em teus braços
    o meu pecado de pensar.

    Minha alma tem o peso da luz 

    Minha alma tem o peso da luz.
    Tem o peso da música.
    Tem o peso da palavra nunca dita,
    prestes quem sabe a ser dita.
    Tem o peso de uma lembrança.
    Tem o peso de uma saudade.
    Tem o peso de um olhar.
    Pesa como pesa uma ausência.
    E a lágrima que não se chorou.
    Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros.

    Não te amo mais

    Não te amo mais.
    Estarei mentindo dizendo que
    Ainda te quero como sempre quis.
    Tenho certeza que
    Nada foi em vão.
    Sinto dentro de mim que
    Você não significa nada.
    Não poderia dizer jamais que
    Alimento um grande amor.
    Sinto cada vez mais que
    Já te esqueci!
    E jamais usarei a frase
    EU TE AMO!
    Sinto, mas tenho que dizer a verdade
    É tarde demais…

    (Obs.: Agora leia de baixo para cima. Este poema tem interpretações distintas.)

    Nossa truculência

    Quando penso na alegria voraz
    com que comemos galinha ao molho pardo,
    dou-me conta de nossa truculência.
    Eu, que seria incapaz de matar uma galinha,
    tanto gosto delas vivas
    mexendo o pescoço feio
    e procurando minhocas.
    Deveríamos não comê-las e ao seu sangue?
    Nunca.
    Nós somos canibais,
    é preciso não esquecer.
    E respeitar a violência que temos.
    E, quem sabe, não comêssemos a galinha ao molho pardo,
    comeríamos gente com seu sangue.

    Minha falta de coragem de matar uma galinha
    e no entanto comê-la morta
    me confunde, espanta-me,
    mas aceito.
    A nossa vida é truculenta:
    nasce-se com sangue
    e com sangue corta-se a união
    que é o cordão umbilical.
    E quantos morrem com sangue.
    É preciso acreditar no sangue
    como parte de nossa vida.
    A truculência.
    É amor também.

    Quero escrever o borrão vermelho de sangueQuero escrever o borrão vermelho de sangue
    com as gotas e coágulos pingando
    de dentro para dentro.
    Quero escrever amarelo-ouro
    com raios de translucidez.
    Que não me entendam
    pouco-se-me-dá.
    Nada tenho a perder.
    Jogo tudo na violência
    que sempre me povoou,
    o grito áspero e agudo e prolongado,
    o grito que eu,
    por falso respeito humano,
    não dei. Mas aqui vai o meu berro
    me rasgando as profundas entranhas
    de onde brota o estertor ambicionado.
    Quero abarcar o mundo
    com o terremoto causado pelo grito.
    O clímax de minha vida será a morte. Quero escrever noções
    sem o uso abusivo da palavra.
    Só me resta ficar nua:
    nada tenho mais a perder.

    Solidão

    […]

    Que minha solidão me sirva de companhia.
    que eu tenha a coragem de me enfrentar.
    que eu saiba ficar com o nada
    e mesmo assim me sentir
    como se estivesse plena de tudo.

    Sonhe

    Seja o que você quer ser,
    porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma chance
    de fazer aquilo que quer.

    Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
    Dificuldades para fazê-la forte.
    Tristeza para fazê-la humana.
    E esperança suficiente para fazê-la feliz.

    As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas.
    Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos.

    A felicidade aparece para aqueles que choram.
    Para aqueles que se machucam.
    Para aqueles que buscam e tentam sempre.
    E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas.

    Sou

    […]

    Assombrada pelos meus fantasmas,
    pelo que é mítico e fantástico
    – a vida é sobrenatural.
    E eu caminho em corda bamba até o limite de meu sonho.
    As vísceras torturadas pela voluptuosidade
    Guiam-me, fúria dos impulsos. Antes de me organizar,
    tenho que me desorganizar internamente.
    Para experimentar o primeiro e passageiro
    estado primário de liberdade.
    Da liberdade de errar, cair e levantar-me.

    Tentação

    Ela estava com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva. Na rua vazia as pedras vibravam de calor – a cabeça da menina flamejava. Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava. Ninguém na rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto do bonde. E como se não bastasse seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de momento a momento, abalando o queixo que se apoiava conformado na mão. Que fazer de uma menina ruiva com soluço? Olhamo-nos sem palavras, desalento contra desalento. Na rua deserta nenhum sinal de bonde. Numa terra de morenos, ser ruivo era uma revolta involuntária. Que importava se num dia futuro sua marca ia fazê-la erguer insolente uma cabeça de mulher? Por enquanto ela estava sentada num degrau faiscante da porta, às duas horas. O que a salvava era uma bolsa velha de senhora, com alça partida. Segurava-a com um amor conjugal já habituado, apertando-a contra os joelhos. Foi quando se aproximou a sua outra metade neste mundo, um irmão em Grajaú. A possibilidade de comunicação surgiu no ângulo quente da esquina acompanhando uma senhora, e encarnada na figura de um cão. Era um basset lindo e miserável, doce sob a sua fatalidade. Era um basset ruivo. Lá vinha ele trotando, à frente da sua dona, arrastando o seu comprimento. Desprevenido, acostumado, cachorro. A menina abriu os olhos pasmados. Suavemente avisado, o cachorro estacou diante dela. Sua língua vibrava. Ambos se olhavam. Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina que viera ao mundo para ter aquele cachorro. Ele fremia suavemente, sem latir. Ela olhava-o sob os cabelos, fascinada, séria. Quanto tempo se passava? Um grande soluço sacudiu-a desafinado. Ele nem sequer tremeu. Também ela passou por cima do soluço e continuou a fitá-lo. Os pelos de ambos eram curtos, vermelhos. Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo. Sabe-se também que sem falar eles se pediam. Pediam-se, com urgência, com encabulamento, surpreendidos. No meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol, ali estava a solução para a criança vermelha. E no meio de tantas ruas a serem trotadas, de tantos cães maiores, de tantos esgotos secos – lá estava uma menina, como se fora carne de sua ruiva carne. Eles se fitavam profundos, entregues, ausentes do Grajaú. Mais um instante e o suspenso sonho se quebraria, cedendo talvez à gravidade com que se pediam. Mas ambos eram comprometidos. Ela com sua infância impossível, o centro da inocência que só se abriria quando ela fosse uma mulher. Ele, com sua natureza aprisionada. A dona esperava impaciente sob o guarda-sol. O basset ruivo afinal despregou-se da menina e saiu sonâmbulo. Ela ficou espantada, com o acontecimento nas mãos, numa mudez que nem pai nem mãe compreenderiam. Acompanhou-o com olhos pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e os joelhos, até vê-lo dobrar a outra esquina. Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só vez olhou para trás.

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    Gotas de Poesia

    Delírios de um Inocente

    Delírios de um inocente
    Felizes são os realistas
    Sempre tão pessimistas
    Na vida decadente

    Essa é a vida de quem ama
    Pois amar é dor
    É viver sem cor
    Principalmente quando não se tem quem se ama

    A vida é feita desses delírios
    Que nos mata aos poucos
    Como belos tolos
    Que acreditam que o amor é belo como os lírios

    Sentimentos nocivos de um ser
    Um idiota incompreendido
    Que vive perdido
    Em suas inconstantes dores

    Mas ninguém sabe de seus sentimentos
    Tinguem liga pras suas lágrimas
    A felicidade é dos realistas
    Que simplesmente vivem sem amar, e sem sofrimentos

    A vida é feita desses delírios
    Que nos matam aos poucos
    Como belos tolos
    Que acreditam que o amor é belo como os líriosmax frança da paz7 compartilhamentos Adicionar à coleçãoVer imagem

    “Há dois tipos de pessoas no mundo: os realistas e os sonhadores. Os realistas sabem onde estão indo. Os sonhadores já estiveram lá.”Robert Orben67 compartilhamentos Adicionar à coleçãoVer imagem

    Há sonhadores e realist