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“Porque tenho sido tudo, e creio que minha verdadeira vocação é procurar o que valha a pena ser.”
(Carta a Godofredo Rangel, Nova Iorque, 28/11/1928)
José Bento Renato Monteiro Lobato, ou apenas Monteiro Lobato, é um dos maiores escritores da literatura brasileira de todos os tempos. Um dos precursores da literatura infantojuvenil, dedicou seus 66 anos de vida à composição de uma interessante obra, dedicada, sobretudo, ao universo infantil. Um dos representantes da geração pré-modernista brasileira, Lobato foi contista, ensaísta e tradutor, além de grande crítico social e político.
Ao longo de sua carreira, Lobato escreveu 26 livros para o público infantojuvenil, imortalizando as personagens do famoso Sítio do Picapau Amarelo
Vida e obra de Monteiro Lobato
Monteiro Lobato nasceu no dia 18 de abril de 1882 na cidade de Taubaté, estado de São Paulo. Formou-se em Direito, exercendo o ofício até tornar-se fazendeiro ao herdar as terras que foram de seu avô. A nova condição favoreceu o ofício de escritor, possibilitando a Lobato a dedicação quase que exclusiva à literatura: seus primeiros contos foram publicados em jornais e revistas, sendo, posteriormente, compilados na obra Urupês, considerada a obra-prima do autor.
“O que mais aprecio num estilo é a propriedade exata de cada palavra.”
(Carta a Godofredo Rangel, Areias, 30/8/1909)
Monteiro Lobato, além de grande escritor, era um visionário. Precursor e maior autor da literatura infantojuvenil do país, foi também fundador da primeira editora brasileira, a “Monteiro Lobato e Cia”, em 1918. Até então, todos os livros de escritores brasileiros eram exclusivamente impressos em Portugal e, graças a seu pioneirismo, teve início o movimento editorial no Brasil. Foi um intelectual participante, defendeu ideias progressistas e, por vezes, polêmicas, comportamento que lhe rendeu uma séria indisposição com o então presidente Getúlio Vargas.
“Todos os nossos males, econômicos, financeiros e morais, (…) provêm de uma causa única: pobreza, anemia econômica. Vou além: miséria.”
(Carta a Alarico Silveira, Nova Iorque, 3/5/1928)
Depois de Lima Barreto e Euclides da Cunha, ambos representantes do Pré-Modernismo brasileiro, Monteiro Lobato certamente foi quem melhor apontou, através da literatura, as mazelas físicas, sociais e mentais do Brasil oligárquico e da Primeira República. Apesar do espírito vanguardista, Lobato também era moralista e doutrinador, aspectos de sua personalidade que o afastaram do Modernismo de 1922. Grande crítico das vanguardas europeias que fomentaram a fase heroica do Modernismo, Lobato escreveu, em 1917, um artigo no qual tecia duros comentários à exposição da artista plástica Anita Malfatti intitulado “Paranoia ou Mistificação?”.
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“Futurismo, cubismo, impressionismo e tutti quanti não passam de outros tantos ramos da arte caricatural.”
(Ideias de Jeca Tatu, 1919)
As desavenças com os artistas e escritores do Modernismo marcaram sua trajetória. Enquanto esses estavam preocupados com os experimentalismos na arte e com a busca de novos padrões estéticos, Lobato mostrava-se aguerrido em fazer de sua literatura um documento social, construindo personagens caricatas e risíveis, como o emblemático Jeca Tatu, personagem do livro Urupês. Nos anos seguintes, escreveu Cidades Mortas e Negrinha, nos quais relatou aspectos sombrios da sociedade brasileira da época, como a violência contra os negros, imigrantes e mulheres, o trabalho do menor, o crescimento desordenado das cidades e a degradação da vida no interior.
“Meu plano agora é um só: dar ferro e petróleo ao Brasil.”
(Carta a Godofredo Rangel, Nova Iorque, 17/8/1927)
Depois de longa temporada nos Estados Unidos, Monteiro Lobato regressou ao Brasil em 1931, mostrando grande engajamento com a causa progressista: contrariando a política estadista de Getúlio Vargas, defendeu que a extração do petróleo em solo brasileiro fosse entregue à iniciativa privada, posicionamento que resultaria em sua prisão em duas diferentes ocasiões. A luta pelo “ouro negro” consumiu todos os seus recursos financeiros, deixando-o pobre e doente. Faleceu no dia 4 de julho de 1948, aos 66 anos, vitimado por um derrame.
“Ainda acabo fazendo livros onde as nossas crianças possam morar.”
(Carta a Godofredo Rangel, Rio de Janeiro, 7/5/1926)
Não por acaso a data de seu nascimento – 18 de abril – foi escolhida como o Dia Nacional do Livro Infantil, uma justa homenagem ao homem que, ao longo de sua carreira literária, escreveu 26 títulos destinados ao público infantil em uma época em que as crianças não eram vistas como potenciais leitores. Foi considerado um dos mais importantes escritores da literatura infantojuvenil da América Latina e também do mundo, atraindo, ainda hoje, milhares de leitores, que estabelecem com sua obra um interessante vínculo afetivo por conta de personagens célebres e recorrentes em sua obra, como a boneca Emília, Narizinho, Pedrinho, Tia Nastácia, Dona Benta, entre outros moradores do famoso Sítio do Picapau Amarelo.
*A imagem que ilustra este artigo é capa do livro Monteiro Lobato – Um brasileiro sob medida, da escritora e pesquisadora Marisa Lajolo. Editora Moderna.
ARTIGOS DE MONTEIRO LOBATO
URUPÊS
A coletânea de contos é considerada a obra prima do autor e narra a vida do caboclo paulista.