Gotas de Poesia

  • Gotas de Poesia

    Gotas de Poesia

    17 maiores poetas brasileiros contemporâneos

    Márcia Fernandes

    Márcia Fernandes 

    Professora licenciada em LetrasAdicionar aos favoritos

    A literatura brasileira reúne diversos poetas que tiveram grande destaque não somente no Brasil, mas no mundo.

    Confira abaixo uma lista dos maiores poetas brasileiros modernos e contemporâneos. Leia também algumas de suas poesias.

    1. Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

    Carlos Drummond de Andrade

    Poeta modernista mineiro, Drummond é considerado um dos maiores poetas brasileiros do século XX. Grande destaque da segunda geração modernista, além de poemas, escreveu crônicas e contos.

    No meio do caminho

    No meio do caminho tinha uma pedra
    Tinha uma pedra no meio do caminho
    Tinha uma pedra
    No meio do caminho tinha uma pedra.
    Nunca me esquecerei desse acontecimento
    Na vida de minhas retinas tão fatigadas.
    Nunca me esquecerei que no meio do caminho
    Tinha uma pedra
    Tinha uma pedra no meio do caminho
    No meio do caminho tinha uma pedra.

    Veja também: Carlos Drummond de Andrade

    2. Conceição Evaristo (1946)

    Conceição Evaristo

    Poetisa mineira de origem humilde, Conceição Evaristo é um nome que marca a poesia contemporânea. Além de poemas, escreve contos e romances.

    Vozes-Mulheres

    A voz de minha bisavó
    ecoou criança
    nos porões do navio.
    ecoou lamentos
    de uma infância perdida.

    A voz de minha avó
    ecoou obediência
    aos brancos-donos de tudo.

    A voz de minha mãe
    ecoou baixinho revolta
    no fundo das cozinhas alheias
    debaixo das trouxas
    roupagens sujas dos brancos
    pelo caminho empoeirado
    rumo à favela

    A minha voz ainda
    ecoa versos perplexos
    com rimas de sangue
    e
    fome.

    A voz de minha filha
    recolhe todas as nossas vozes
    recolhe em si
    as vozes mudas caladas
    engasgadas nas gargantas.

    A voz de minha filha
    recolhe em si
    a fala e o ato.
    O ontem – o hoje – o agora.
    Na voz de minha filha
    se fará ouvir a ressonância
    O eco da vida-liberdade.

    Para saber mais, leia: Conceição Evaristo: vida, obra e importância na literatura brasileira

    3. Adélia Prado (1935)

    Adélia Prado

    Poetisa mineira, Adélia é uma escritora da literatura brasileira contemporânea. Além de poemas, escreveu romances e contos, onde explora, em grande parte, o tema da mulher.

    Com licença poética

    Quando nasci um anjo esbelto,
    desses que tocam trombeta, anunciou:
    vai carregar bandeira.
    Cargo muito pesado pra mulher,
    esta espécie ainda envergonhada.
    Aceito os subterfúgios que me cabem,
    sem precisar mentir.
    Não sou feia que não possa casar,
    acho o Rio de Janeiro uma beleza e
    ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
    Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
    Inauguro linhagens, fundo reinos
    — dor não é amargura.
    Minha tristeza não tem pedigree,
    já a minha vontade de alegria,
    sua raiz vai ao meu mil avô.
    Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
    Mulher é desdobrável. Eu sou.

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    4. Cora Coralina (1889-1985)

    Cora Coralina

    Poetisa brasileira nascida em Goiás, Cora é conhecida como a “escritora das coisas simples”. Além de poemas, ela escreveu contos e obras de literatura infantil. Sua poesia tem como grande característica os temas cotidianos.

    Mulher da vida

    Mulher da Vida,
    Minha irmã.
    De todos os tempos.
    De todos os povos.
    De todas as latitudes.
    Ela vem do fundo imemorial das idades
    e carrega a carga pesada
    dos mais torpes sinônimos,
    apelidos e ápodos:
    Mulher da zona,
    Mulher da rua,
    Mulher perdida,
    Mulher à toa.
    Mulher da vida,
    Minha irmã.

    Veja também: Cora Coralina

    5. Hilda Hilst (1930-2004)

    Hilda Hilst

    Poetisa brasileira nascida em Jaú, no interior de São Paulo. Hilda é considerada uma das maiores escritoras do século XX do Brasil. Além de poemas, ela escreveu crônicas e obras de dramaturgia.

    Tateio

    Tateio. A fronte. O braço. O ombro.
    O fundo sortilégio da omoplata.
    Matéria-menina a tua fronte e eu
    Madurez, ausência nos teus claros
    Guardados.

    Ai, ai de mim. Enquanto caminhas
    Em lúcida altivez, eu já sou o passado.
    Esta fronte que é minha, prodigiosa
    De núpcias e caminho
    É tão diversa da tua fronte descuidada.

    Tateio. E a um só tempo vivo
    E vou morrendo. Entre terra e água
    Meu existir anfíbio. Passeia
    Sobre mim, amor, e colhe o que me resta:
    Noturno girassol. Rama secreta.

    6. Cecília Meireles (1901-1964)

    Cecília Meireles

    Poetisa brasileira carioca, Cecília é uma das primeiras mulheres a ter grande destaque na literatura brasileira. Foi escritora da segunda fase do modernismo no Brasil. Seus poemas apresentam caráter intimista, com forte influência da psicanálise e da temática social.

    Motivo

    Eu canto porque o instante existe
    e a minha vida está completa.
    Não sou alegre nem sou triste:
    sou poeta.

    Irmão das coisas fugidias,
    não sinto gozo nem tormento.
    Atravesso noites e dias
    no vento.

    Se desmorono ou se edifico,
    se permaneço ou me desfaço,
    — não sei, não sei. Não sei se fico
    ou passo.

    Sei que canto. E a canção é tudo.
    Tem sangue eterno a asa ritmada.
    E um dia sei que estarei mudo:
    — mais nada.

    Veja também: Cecília Meireles

    7. Manuel Bandeira (1886-1968)

    Manuel Bandeira

    Poeta brasileiro pernambucano, Manuel teve grande destaque na primeira fase do modernismo no Brasil. Além de poemas, escreveu também obras em prosa. Com grande lirismo, sua obra versa sobre temas do cotidiano e da melancolia.

    Desencanto

    Eu faço versos como quem chora
    De desalento… de desencanto…
    Fecha o meu livro, se por agora
    Não tens motivo nenhum de pranto.

    Meu verso é sangue. Volúpia ardente…
    Tristeza esparsa… remorso vão…
    Dói-me nas veias. Amargo e quente,
    Cai, gota a gota, do coração.

    E nestes versos de angústia rouca
    Assim dos lábios a vida corre,
    Deixando um acre sabor na boca.

  • Gotas de Poesia

    Gotas de poesias

    Receita de Ano Novo

    Para você ganhar belíssimo Ano Novo
    cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
    Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
    (mal vivido talvez ou sem sentido)
    para você ganhar um ano
    não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
    mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
    novo
    até no coração das coisas menos percebidas
    (a começar pelo seu interior)
    novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
    mas com ele se come, se passeia,
    se ama, se compreende, se trabalha,
    você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
    não precisa expedir nem receber mensagens
    (planta recebe mensagens?
    passa telegramas?)

    Não precisa
    fazer lista de boas intenções
    para arquivá-las na gaveta.
    Não precisa chorar arrependido
    pelas besteiras consumadas
    nem parvamente acreditar
    que por decreto de esperança
    a partir de janeiro as coisas mudem
    e seja tudo claridade, recompensa,
    justiça entre os homens e as nações,
    liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
    direitos respeitados, começando
    pelo direito augusto de viver.

    Para ganhar um Ano Novo
    que mereça este nome,
    você, meu caro, tem de merecê-lo,
    tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
    mas tente, experimente, consciente.
    É dentro de você que o Ano Novo
    cochila e espera desde sempre.