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    4. Adélia Prado (1935)

    Adélia Prado é uma escritora, filósofa e professora mineira que integrou o movimento modernista brasileiro. A sua carreira literária começou aos 40 anos e recebeu um grande apoio de Drummond, que chegou a enviar os poemas dela para a Editora Imago.

    Adélia Prado

    A sua linguagem coloquial aproxima a autora dos leitores e os seus versos transmitem uma visão mágica acerca da vida cotidiana. Com um olhar de fé e encantamento perante o mundo, Prado é capaz de criar novos significados para os elementos mais comuns.

    Uma das suas composições mais notáveis, “Com licença poética”, é uma espécie de resposta ao “Poema de Sete Faces” de Drummond. A composição transmite uma perspectiva feminina, pensando como é viver e escrever enquanto mulher brasileira.

    Com licença poética

    Quando nasci um anjo esbelto,
    desses que tocam trombeta, anunciou:
    vai carregar bandeira.
    Cargo muito pesado pra mulher,
    esta espécie ainda envergonhada.
    Aceito os subterfúgios que me cabem,
    sem precisar mentir.
    Não tão feia que não possa casar,
    acho o Rio de Janeiro uma beleza e
    ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
    Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos
    — dor não é amargura.
    Minha tristeza não tem pedigree,
    já a minha vontade de alegria,
    sua raiz vai ao meu mil avô.
    Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem.

    Mulher é desdobrável. Eu sou.

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    Gotas de Poesia

    4. Adélia Prado (1935)

    Adélia Prado é uma escritora, filósofa e professora mineira que integrou o movimento modernista brasileiro. A sua carreira literária começou aos 40 anos e recebeu um grande apoio de Drummond, que chegou a enviar os poemas dela para a Editora Imago.

    Adélia Prado

    A sua linguagem coloquial aproxima a autora dos leitores e os seus versos transmitem uma visão mágica acerca da vida cotidiana. Com um olhar de fé e encantamento perante o mundo, Prado é capaz de criar novos significados para os elementos mais comuns.

    Uma das suas composições mais notáveis, “Com licença poética”, é uma espécie de resposta ao “Poema de Sete Faces” de Drummond. A composição transmite uma perspectiva feminina, pensando como é viver e escrever enquanto mulher brasileira.

    Com licença poética

    Quando nasci um anjo esbelto,
    desses que tocam trombeta, anunciou:
    vai carregar bandeira.
    Cargo muito pesado pra mulher,
    esta espécie ainda envergonhada.
    Aceito os subterfúgios que me cabem,
    sem precisar mentir.
    Não tão feia que não possa casar,
    acho o Rio de Janeiro uma beleza e
    ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
    Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos
    — dor não é amargura.
    Minha tristeza não tem pedigree,
    já a minha vontade de alegria,
    sua raiz vai ao meu mil avô.
    Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem.

    Mulher é desdobrável. Eu sou.